“Às vezes dizer não é a palavra mais gentil” (Vironika Tugaleva)
Olá amigos!
Quando vamos estudar o comportamento de dizer não, estamos estudando um comportamento verbal. Um comportamento verbal tem, segundo a psicologia comportamental, o mesmo modo de funcionamento de qualquer outro comportamento. Para fins didáticos, podemos estudar uma unidade de comportamento (dizer algo) através dos antecedentes e consequentes. Em outras palavras, vamos analisar o que vem antes do comportamento e o que vem depois.
Por exemplo, o sujeito acaba de chegar do trabalho e, no trabalho, houve um grande problema e, por isso, há estresse quando um amigo, inesperadamente, liga e convida para sair. A resposta – pensada – é não. Porém, ao avaliar as consequências de dizer não (provavelmente magoaria o amigo), o sujeito diz sim.
Temos, portanto, uma estrutura simples:
Antes: trabalho e estresse
Durante: convite e resposta verbal de dizer sim
Depois: há o encontro com o amigo, que reforça o sim, e talvez tivesse brigado ou se sentido mal com um não.
Evidentemente, esta forma de expor o comportamento é esquemática. Teríamos que voltar também na história comportamental do sujeito para entender situações anteriores em que disse não e foi punido. Mas o exemplo nos ajuda a começar.
A dificuldade de dizer não
Dizer sim ou dizer é só um comportamento como outro qualquer. Porém, quando alguém relata sentir dificuldade de dizer não isso significa um conflito entre querer dizer não e se sentir compelido a dizer sim.
No filme com Jim Carrey, Sim, Senhor! o personagem do comediante vai a um seminário de autoajuda e guarda o princípio de que “o sim é o novo não”. Ou seja, pessoas que sempre falavam não para tudo (para convites, para diversão, para encontros, etc) passaram a dizer mais sim para a vida, com resultados positivos.
O próprio personagem possui o histórico de dizer não. Se recebia um convite dos amigos, sempre dizia não e ficava em casa. Após o seminário, passa a dizer sim para tudo.
Bem, não vou contar o filme, mas a ideia presente ali é muito interessante e trata justamente do tema da dificuldade de dizer não e, igualmente, da dificuldade de dizer sim. Em tese, sob o ponto de vista comportamental, é a mesma coisa.
Contudo, como vemos mais a dificuldade de dizer não, manteremos a nossa atenção sobre o não. Há, portanto, um conflito entre querer dizer não e dizer sim. Ou sentir que é preciso dizer sim.
E porque? Ora, a pessoa diz sim para evitar uma consequência negativa. Se uma pessoa passa a dizer não para todos os convites dos seus amigos, aos poucos eles tenderão a convidar menos ao ponto de, no longo prazo, de não ligarem mais. Visando evitar esta consequência a resposta é sim, ao invés de não.
Sair ou não sair um dia com os amigos é, de certa forma, uma decisão sem grande impacto na vida. Porém, podemos imaginar o que este tipo de resposta ocasiona nas grandes decisões.
Imagine dizer sim para um relacionamento insatisfatório, dizer sim para uma escolha de faculdade e de uma profissão por pressão familiar ou dizer sim para trabalhar horas extras noturnas ou no final de semana, sem remuneração extra.
Novamente, conseguimos visualizar que o comportamento de dizer sim visa evitar uma consequência negativa. Em se tratando de relacionamentos interpessoais, fica claro se resumirmos a maioria dos casos na dificuldade de se afirmar e na dificuldade de ir contra o que a outra pessoa quer, deseja ou almeja.
“Eu não quero te magoar, por isso digo sim”.
Não diga sim quando você quer dizer não
O livro de
Assertividade significa conseguir dizer o que se quer dizer ou o que é preciso dizer. Afinal, só você vai viver a sua vida, não é mesmo? Dizer sim toda hora para as demandas dos outros acaba sendo muito frustrante no longo prazo. A vida vai perdendo lentamente o sentido, na medida em que vamos deixando as escolhas nas mãos dos outros e não defendemos o nosso ponto de vista e o nosso desejo real.
Como disse, dizer sim para decisões que são praticamente irrelevantes – como ir em um restaurante ou outro – é muito diferente de dizer sim para as grandes questões. Imagine dizer sim para alguém e passar anos e anos em um relacionamento não desejado! Imagine dizer sim e fazer uma faculdade inteira porque alguém persuadiu! Imagine trabalhar todos os dias em um trabalho péssimo só porque todo mundo diz que tem que ser assim!
Como dizer não
A questão que surge, então, é como dizer não sem parecer rude, sem criar conflito e afastamento (às vezes, em um primeiro momento, é inevitável).
Algumas das seguintes frases podem ser utilizadas, segundo Celestine Chua, pois ajudam a dizer sim com mais facilidade:
1) Eu não posso me comprometer com isso porque eu tenho outras prioridades no momento.
2) Agora não é um bom momento porque eu estou ocupado com algo muito importante. Que tal mais para frente?
3) Eu adoraria, mas infelizmente…
4) Deixa eu pensar por um tempo e logo mais te dou uma resposta
5) Isso não é bem o que eu quero no momento, mas vou pensar sobre…
6) Eu não sou a melhor pessoa para te ajudar com isso. Por que você não tenta X?
7) Não, eu não posso.
Conclusão
As frases acima são apenas alguns modelos que podem ajudar a dizer não. O mais importante é avaliar o quanto antes que realmente a resposta afirmativa não vai ser positiva. Assim, querendo dizer não, é igualmente muito importante saber as consequências de dizer não, para si mesmo, no longo prazo.
Por exemplo, há um tempo atrás eu fui convidado para coordenar um grupo de jovens em uma instituição. Eu disse não, mas a pessoa que estava me convidando sugeriu então que eu aceitasse pelo menos ajudar algumas horas aos sábados. E, de novo, eu declinei dizendo que “estava ocupado com o meu trabalho no doutorado e não teria esse tempo”.
O que esse exemplo mostra é que é preciso observar este estilo de proposta. É uma forma clássica para persuadir: “já que você não pode isso (grande coisa), que tal fazer isso (pequena coisa)?”
É uma forma clássica de persuasão que se chama “recusa e retrocesso posterior”. De modo que é importante manter o não como não – quando se quer dizer não.
Esta abordagem me parece adequada para dizer não a quem te pede $ emprestado. No caso de um relacionamento há diversos interesses envolvidos e às vezes uma resposta direta, sim/não pode ser desastrosa.
Quanto a outras decisões, penso que se vc diz sim em decorrencia de persuasão, vejo que o convencido ainda carece de capacidade de se auto-conduzir e portanto de argumentar…
Gostaria de saber sobre curso de Psicoterapia Junguiana
Marta,
Muito bom você ter mencionado este aspecto. Em relações mais íntimas (como as amorosas) a questão do decidir, de um casal, vai envolver o modo como estes encaram o poder. Como dizia Jung: “Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro”. Portanto, a ideia é que o dizer não seja feito de uma maneira tranquila, sem uma imposição baseada exclusivamente no poder.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Irene,
Nós temos diversos cursos sobre a obra do Jung.
Veja aqui – http://www.cursojung.com
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Boa noite, Felipe!
Minha dificuldade não é dizer “não” (isso faço com tranquilidade). O que me incomoda, não sempre mas na maioria das vezes, é ouvir um não.
Esse é um dos direitos humanos e faz parte de um comportamento assertivo.
Olá Lucas,
Sugiro a leitura do texto
https://psicologiamsn20220322.mystagingwebsite.com/2013/11/o-que-voce-pode-e-o-que-voce-nao-pode-controlar.html
Olá Filipe, boa tarde,
Amei a matéria sobre como dizer não, muitas vezes deparei-me com este dilema principalmente com pessoas próximas, o receio de ficar mal perante outros ou o de decepcionar alguém.
Mas como diz o artigo depois seremos nós a colher aquilo que respondemos.
Fixei as várias formas de como responder “NÃO”, com mais delicadeza.
“Ngasakidila”
Obrigada no meu dialecto.