A armadilha da confiança atrapalha 9 entre 10 pessoas que querem ter mais autoconfiança
Olá amigos!
Conforme prometido anteriormente, hoje vou falar um pouco mais sobre a Terapia de Aceitação de Compromisso, em inglês ACT (que se pronuncia como a palavra ato, to act), Acceptance and Commitment Therapy. O tema é sobre confiança e autoconfiança. Afinal, imagino que todos, todos sem exceção, queremos ter um pouco mais de confiança, pois, enquanto em uma área podemos ser totalmente confiantes, em outra podemos ter confiança nenhuma.
Por exemplo, um Don Juan pode ter pouca confiança para dirigir ou um intelectual ter dificuldades para falar em público ou uma dançarina profissional pode ter muita dificuldade de iniciar uma conversa visando um novo relacionamento amoroso.
Então, ainda que sejamos confiantes em uma ou outra área, não seria nada mal aumentar o sentimento de confiança nessa mesma área ou sentir o mesmo em outra área totalmente distinta, não é mesmo? Primeiro vamos definir o que é confiança e, depois, a partir do que chamamos de armadilha da confiança, vamos encontrar a maneira efetiva para melhorar nesta parte de nossas vidas.
Definição de confiança
Etimologicamente, pela origem da palavra, podemos ver que confiança tem dois sentidos:
1) Um sentimento de certeza ou segurança
2) Uma ato de coragem ou suficiência
Embora de começo não possamos distinguir muito um sentido do outro é fácil entender. Normalmente, pensamos em ser ou estar confiante como um sentimento de segurança. Você vai fazer uma prova e você tem o sentimento de que vai dar tudo certo, nada de ansiedade ou medo. Ou você vai pedir para sair com aquela pessoa que está na sua cabeça já há meses e você simplesmente pede, com tranquilidade e segurança.
No segundo sentido, não se trata de um sentimento como esse, mas sim de um ato que se baseia menos na certeza completa do que na habilidade de acreditar. Por exemplo, se uma pessoa tem que fazer uma cirurgia complexa, ela pode não ter o primeiro sentido de confiança naquele momento porque está presente a incerteza, a insegurança e o medo. Porém, pelo ato de confiança, a pessoa confia na capacidade do médico de fazer a operação, independendo do risco existente.
A diferença entre um sentido e outro é útil para entendermos como – para aumentar a confiança e a autoconfiança – nós temos que começar pelo segundo sentido em vez de insistir no primeiro. Russ Harris cita o exemplo de Nelson Mandela. Em sua autobiografia, Long Walk to Freedom, Mandela conta como se manteve confiante e passou inspiração para seus amigos de prisão por insistir em agir com confiança, antes de se sentir confiante.
Ele conta que teve muito medo e sentiu diversas vezes que poderia ser assassinado, sem contar as dificuldades da prisão. Entretanto, ele decidiu agir com confiança, erguer o peito e andar com majestade para que os seus companheiros também tivessem mais força para se manter e para que ele mesmo tivesse mais capacidade de continuar sua luta por uma África do Sul para todos.
A Armadilha da Confiança
Russ Harris define a armadilha ou lacuna ou vão ou brecha (gap) no problema de tentar ter mais confiança da seguinte forma:
“Eu tenho que me sentir confiante antes de atingir meus objetivos, antes de realizar o máximo e fazer as coisas que eu quero fazer ou me comportar como a pessoa que quero ser”.
Seria como se Mandela pensasse que o ideal seria se sentir confiante (o primeiro sentido) antes de agir com confiança. O problema, a armadilha, a lacuna é justamente que se esperarmos para ter mais confiança antes de fazer, a tendência é que nós simplesmente vamos querer adiar, talvez para sempre e nunca vamos querer fazer, pela justificativa de que temos que ter confiança antes.
Nas palavras do Russ:
“Este é o ponto chave. Se nós queremos fazer qualquer coisa com confiança – falar, pintar, fazer amor, jogar tênis ou socializar – então nós temos que fazer. Nós temos que praticar as habilidades necessárias diversas vezes, até que elas venham naturalmente. Se nós não temos as habilidades para fazer as coisas que queremos fazer, nós não podemos esperar ser confiantes. E se nós não praticarmos continuamente estas habilidades, elas vão se tornar rústicas ou desajeitadas ou então nunca vão atingir o estado na qual poderão fluir naturalmente”.
Portanto, esta é a regra que podemos aprender com a Terapia da Aceitação e Compromisso para desenvolver a confiança:
Regra: As ações de confiança vem antes; os sentimentos de confiança vem depois.
Alguns exemplos podem esclarecer o que estamos falando. Digamos que você tenha dificuldade de falar em público. Se você esperar para se sentir confiante antes de treinar diversas vezes, você poderá esperar sentado. Da primeira vez não sairá perfeito, talvez nem na décima vez ou centésima. Mas com o tempo você passará a adquirir a habilidade necessária para falar bem, pois no processo estará se aperfeiçoando. E, então, o sentimento de confiança e segurança de poder falar com tranquilidade virá até que o sentimento inicial de inadequação será totalmente esquecido e terá ficado no passado.
Assim como alguém que tem muita dificuldade de convidar uma pessoa para sair. Na primeira vez, as palavras podem não sair direito ou ser constrangedor o momento, mas com diversas tentativas o processo se tornará tão simples quanto qualquer outra coisa que já fazemos cotidianamente. O mesmo é válido para dirigir um carro ou um avião, escrever um artigo científico ou jogar futebol.
É preciso ir e fazer, tentar e errar e no caminho não deixar que os pequenos insucessos interfiram e paralisem. Com o tempo, o comportamento terá sido modelado de forma que teremos finalmente a segurança e a confiança de fazer sem temer.
Como na imagem abaixo:
Conclusão
Portanto, o central é entender que é um processo. Se colocamos a necessidade de se sentir confiante antes de fazer o que quer que nos dê um frio na barriga e vontade de fugir, nunca sairemos desse ciclo no qual a falta de confiança impede o comportamento e a falta de comportamento impede o sentimento de confiança.
Até pessoas que nos parecem destemidas como Nelson Mandela sentiram medo. A diferença entre quem faz e realiza o que quer realizar a partir dos seus valores mais caros é que o medo não entra na frente. O medo não precisa desaparecer de todo, ao menos no começo não vai. O medo pode continuar ali, presente, mas não se vai se transformar em uma barreira intransponível.
Para concluir, pense e se quiser, comente – O que você faria se não tivesse medo?
Veja também – Medo de errar? Bobagem! Siga em frente
Se eu não tivesse medo iria fazer o que não consigo. :(
Muito bom esse artigo! Eu sofro constantemente porque sou tímida, muitas vezes deixo de falar com as pessoas ou fazer algo por medo e vergonha do que elas vão pensar… Isso é falta de confiança com certeza, a parte em que fala que se a gente ficar esperando se sentir confiante para fazer as coisas, nunca conseguiremos fazer nada! Isso é a pura verdade! Penso que eu preciso sair da zona de conforto e da zona do medo e começar a praticar ações mesmo com medo para gradualmente o processo de confiança se estabelecer em meus atos ! Parabéns pelo conteúdo desse tema!
Obrigado Isadora!
Dizem que quem puxa papo com pessoas estranhas na rua, digamos, com o caixa do supermercado, tem mais chances de ficar feliz, rsrs.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Felipe, como sempre os teus textos são muito esclarecedores, até para nós profissionais. Sabemos que um pouco de medo é necessário em nossa vida, só não podemos deixar que ele nos paralise. O que tem me chamado muito a atenção no consultório, é o nível de insegurança das pessoas. Confesso que isto me preocupa, pois fico com a sensação que as pessoas estão cada vez menos confiantes em si. Por vezes, chego a pensar que podem se mostrarem assim a fim de que os outros digam o que elas devem fazer e se isentarem da responsabilidade de seus atos. Parabéns pelo texto e sucesso. abraço fraterno
Obrigado Anissis!
É verdade. É difícil quem quer assumir responsabilidades!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Achei muito interessante o artigo, pois mostra que muitas vezes somos confiantes em uma área e em outra não. Eu aparento ser confiante, mas não consigo dirigir. Quando digo que não dirijo, elas não acreditam. Abraço
Esse texto me fez lembrar de uma frase de um personagem fictício chamado Syrio Forel que diz : ” O medo golpeia mais profundamente que uma espada” .
Muito bom!
O que faria se não tivesse medo de altura seria pular de paraquedas. ;)
Felipe, muito bom!
Isso também nos lembra que existem os níveis de aprendizagem pelos quais precisamos passar para aprendermos algo de forma consistente, o que também nos dará mais autoconfiança. Sabe, Felipe, talvez as pessoas gostassem mesmo era de tomar uma pílula que lhes desse autoconfiança. Um abraço! :)
Verdade Marta! Uma pílula para tudo.
Muitooo bom, sempre tentei dizer isso e agir assim, penso que a vida é um constante progresso, nada fica pronto antes de ser preparado… Pena que muitos ainda não compreendem isso, além de estagnarem ainda nos criticam por tentar, não sabem que agimos assim porque descobrimos que esse é o segredo para que o sucesso seja alcançado! Parabéns pelo artigo! Abraços!
Obrigado Livia! :)
Olá, Felipe!
Eu queria ser mais confiante , principalmente na faculdade.
Quando eu tenho que apresentar trabalho é uma tortura.
Sinto diversas sensações: Fico tremendo muito, nervosa demais, sinto calafrios, mal estar. Me sinto péssima. Você acha que eu deveria fazer algum tratamento? Qual você me indicaria?
Eu nunca falei sobre isso com ninguém, apenas as pessoas que estudam comigo deve perceber, pois isso acontece sempre quando vou apresentar trabalhos da faculdade ou quando tenho que falar em público. Tenho muita vergonha e já pensei em desistir da faculdade.
Agradeço
Elisangela
Olá Elisângela!
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Atenciosamente,
Felipe de Souza
Ótima reflexão!