Este é um texto de reflexão. Concorde. Discorde. Você não precisa satisfazer a minha expectativa de um elogio nem frustrar o meu receio da crítica.
Olá amigos!
O título deste texto é uma provocação. Não estou dizendo para você que está lendo. Mas talvez devesse. Talvez eu venha a dizer em algum momento se você acompanha o nosso site. Porque, no final das contas, é preciso saber da possibilidade de dizer “Eu não estou aqui para satisfazer as suas expectativas” que, em resumo, consiste na habilidade de dizer não.
Eu não posso satisfazer as suas expectativas, ninguém pode. As suas expectativas são um problema seu. São um problema do portador. Eu vim aqui para satisfazer as minhas expectativas, para realizar o que eu tenho que realizar, ainda que possa me perder no caminho.
Se olho para trás noto que já tive que lidar diversas vezes com este sentimento. Não fui o que quiseram que eu fosse. Abandonei oportunidades fantásticas, que não eram para mim. Escolhi errado aqui e ali, mas me perdoo por ter sido sincero e honesto, por ter escolhido sempre o que era melhor (ou parecia melhor), para mim.
E isto não é egoísmo. Isto é autonomia. E autonomia é altruísmo. Como alguém poderia ficar bem e feliz e contribuir com a sociedade em que vive se não faz o que tem que fazer? Se faz apenas e tão somente o que os outros querem e esperam? “Mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira…”
Eu me permito ser
Existem muitas e muitas coisas que não podemos controlar como a cor dos olhos, a altura, a voz, a facilidade para isto ou para aquilo, o que acontece nas circunstâncias aí fora. Porém, também podemos controlar muitas coisas. Podemos procurar melhorar, aperfeiçoar, investir em competências, estudar, ampliar os horizontes, viajar. Podemos passar a aceitar o que não podemos controlar. Podemos nos felicitar pelo que conseguimos.
Eu me permito ser como sou. Até porque não há como fugir de mim mesmo. Eu me permito ser até porque se me aceitar como sou poderei mudar, conforme o paradoxo de Rogers, o grande psicólogo humanista:
Só quando me aceito como sou, posso então mudar
A pergunta então é: porque é tão difícil se aceitar? De verdade, como se é?
Por uma série de motivos: por pressões sociais, familiares. Por um ideal imaginário que diz que se formos deste ou daquele jeito seremos felizes, teremos sucesso, dinheiro, fama, amor. Pelo sentimento de que nunca está bom o bastante, inteligente o bastante, perfeito o bastante, maravilhoso o bastante. É claro: a exigência é permanentemente exigente. Por lógica, a exigência faz com que nunca seja o bastante, com que sempre haja a percepção de que falta.
Por isso, perceber a própria vulnerabilidade (falaremos mais sobre em outros textos), a própria insegurança é um ato de coragem.
Ainda que eu tenha esta e aquela falha, ainda que eu não seja perfeito, eu me aceito como sou. E por este motivo simples, por esta coragem de coração, vou conseguir permitir que você seja quem você é.
Eu te permito ser
Você é quem você é. Se você é meu amigo, meu colega, meu chefe, meu pai ou minha mãe, meu filho ou minha filha, um conhecido, não muda o fato de que você é como você é e eu posso fazer pouco para mudar quem você é. Creio que o máximo que possa fazer é te permitir ser quem você é.
Todos os conflitos interpessoais se baseiam, mais ou menos, na não aceitação do outro.
Mulheres que querem mudar o seu companheiros, pais que querem que os filhos sigam uma carreira X, líderes religiosos que culpabilizam certa orientação estão plantando sementes de conflito. E o que surge do conflito, que é em última instância, uma guerra? Você acha que o conflito vai fazer nascer paz, felicidade, tranquilidade, sucesso? Eu duvido.
O vínculo interpessoal profundo, que toca e transforma, passa pela aceitação de quem se é (primeiro) e pela aceitação de quem o outro ou a outra é.
Se você discorda e quer continuar brigando, tudo bem. Você não será feliz, muito provavelmente e não trará felicidade no relacionamento com outras pessoas.
O tempo de ser
Se você ainda discorda, considere que não temos todo o tempo do mundo. Temos tempo limitado nesta vida (se há outras vidas e como elas são é uma outra história) mas é certo que o nosso tempo tem limite. Você terá mais X horas para viver. Depois, não mais.
Se você quer passar o tempo que tem tentando apenas satisfazer as expectativas de outras pessoas (não importa se é o seu pai ou o Papa), você não estará vivendo uma vida autêntica. E o arrependimento virá mais cedo ou mais tarde. Infelizmente, não raro vem muito tarde: à beira da morte.
Como salienta muito bem Jung no Livro Vermelho:
“Não é apenas imbecilidade trocar sua própria vida por uma estranha, mas também uma brincadeira estúpida, pois nunca conseguirás viver realmente a vida de outra pessoa, tu apenas finges, enganas o outro e a ti mesmo, pois só podes viver tua própria vida” (JUNG, 2013, p. 169).
Bom dia Dr. Felipe, quando leio teus textos, a cada dia, tenho a impressão de estar numa interlocução contigo, parecem ter sequência. Quero conhecer um pouco mais dos tipos psicológicos de Jung. Assisti o teu vídeo introdutório e me identifiquei com o tipo Intuição. Pergunto, numa determinada situação de vida, exemplo trabalho, uma persona pode desenvolver a extroversão por um tempo, e depois desenvolver a introversão numa outra fase da vida? Ou seja alternar papéis dependendo da situação de vida e até que ponto isso comprometeria seu estar no mundo?
Felipe, esse texto merece várias discussões, inicialmente entre adolescentes e pais que vivem sonhando com o sucesso do outro!
Uma outra ideia seria discutir o tema numa escola porque na maioria das vezes é um ambiente propício à comparações! Mesmo que você não concorde comigo, eu dou nota 10 para esse texto, sendo assim […] “Eu não estou aqui para satisfazer as suas expectativas”. Sempre aprendendo! Grande abraço. Abs,
Olá Andria!
Todos nós somos introvertidos e extrovertidos e todos nós temos as 4 funções psíquicas. A questão do tipo consiste na preferência, na utilização maior ou menor de uma atitude (introversão ou extroversão) ou uma função (pensamento ou sentimento, sensação ou intuição). Com isso, é natural ter oscilações no dia e também fases e em áreas da vida, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Raquel!
Seria um projeto muito bacana, hein?
Espero que quem possa fazer um debate com este tema, o faça.
Eu particularmente, como sujeito, não tenho dificuldade nisso, mas todo dia no consultório vejo que muitas pessoas tem. Perceber que não precisamos satisfazer as expectativas, entretanto, não é algo fácil ou sem conflitos. Porque precisamos nos aceitar e conhecer…
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Obrigada pela explicação tão pontual. Muito bom esse espaço de troca de conhecimento. Está de parabéns pela iniciativa. Até mais!
BOA TARDE DR. FELIPE
Amei esse texto de hoje, tenho dificuldade na minha familia , todos querem palpitar minha vida , relacionamento ,financeiro, espiritual , nao me aceitam como sou nem minha opiniao e valida , gostaria de saber como devo me comportar com esta situaçao.
obrigada .
Olá Lucilene,
Em muitos casos a melhor forma é ouvir atentamente (por respeito à quem for) e deixar para lá – se for a melhor opção.
Discutir quase nunca resolve. Em última análise, as decisões cabem a você e, portanto, só você poderá decidir o que fazer em cada uma das áreas de sua vida.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Muito legal ( esse não precisa responder kk) Creio que muitos que gostam de suas matérias não comentem. Mas considero o retorno essencial para que tu não pare de postar textos.
Felipe, concordo plenamente com as tuas colocações. Hojeainda comentava com uma paciente, que muitas vezes as pessoas deixam de fazer e viver a vida que gostariam, para se tornarem fantoches dos outros. Compatilho da ideia de que as nossas expectativas, só nos podemos contemplar, mais ninguém. Sabemos que esta necessidade de atender a expectativa do outro, trata-se não só de um comportamento infantil, como também está atrelada a outros fatores psicológicos. Parabéns pelo teu texto.
Abraço fraterno
Anissis M. Ramos
Caro Doutor Felipe
Como preciso praticar a autonomia de que você falou! Por covardia, quase o tempo todo (não é hipérbole), digo sim quando gostaria e, às vezes, deveria dizer NÃO. Desnecessário dizer quanto sofrimento e até prejuízos financeiros isto me causa. Ensaio, prometo-me, na próxima vez, impor-me. Qual nada! Ainda não consegui. As tentativas são um fiasco. Meu interlocutor percebe (o corpo fala) e se aproveita. Sempre que vejo um psicólogo sendo entrevistado, tomo-o como um modelo de serenidade, segurança, auto-respeito. Ainda que seja uma tranqüilidade na superfície, para mim é MUITO. É meu ideal de comportamento diante do outro. Sou muito Instável diante do outro. Ainda que não lhes deva nada ou até detenha um pouco mais de informações que ele. Pareço duas pessoas: se falo ao telefone com alguém, recebo elogio quanto a minha voz (perguntam se sou locutor) e ao desenvolvimento do tema; se a conversa é pessoalmente, o resultado é sofrível. Isto falando sobre um mesmo ponto. Certamente Freud explica.
Obrigado Nicole!
Olá Luís,
Não podemos fazer uma avaliação apenas com poucas informações e desta forma, certamente você sabe disso.
Mas o Freud também não gostava de ser visto, sabia? Por isso (e por outros motivos) ele criou a sua técnica da associação livre com divã para que pudesse se sentar atrás do paciente e não ser observado 8 horas por dia.
O legal é perceber que, se não houve jeito ainda de mudar, podemos adaptar e utilizar o que temos de bom a nosso favor.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Anissis!
Obrigado por comentar!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Texto incrível !! Comecei este semestre o curso de psicologia, e estou gostando bastante. Este blog tem me ajudado não so a conhecer mais sobre o assunto mas também tem dado ótimas dicas para vida! Muito obrigada :)
Olá Isabella!
Obrigado!
Será um prazer contar com sua participação por aqui!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Adorei! Parabéns Professor Felipe, pelo trabalho multiplicador, dividindo aqui suas percepções e conhecimentos.
Boa noite Felipe! Seus texto estão sendo uma terapia para me , e raro um dia que eu não abro seu blog para ler algo que esta postado eu também vasculho nos textos anteriores. Eu gostaria de saber de você se a psicologia fala algo sobre o pesamento racista, darei um exemplo: alguns tempos atrás pude ler um artigo de um psicólogo cuja não lembro o nome, da época da segunda guerra falando sobre a discriminação dos judeus se eu não mim engano ele ate viveu nos campos de concentrações . você tem ou pode encontra alguma fala ou texto de psicólogos argumentando sobre a escravidão, ou sobre a implosão racial americana da década de 60 ou texto que a psicologia trabalha com o assunto sobre racismo pode ser ate mesmo no Brasil. obrigado! espero que tenha intendido a pergunta!
Olá Anderson!
Obrigado! Fico muito feliz que os textos estejam lhe sendo úteis!
Então, o autor que você se refere chama-se Viktor Frankl, ele publicou o famoso livro “Um psicólogo no campo de concentração”. Ele era judeu e foi levado pego pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial. Falaremos mais sobre ele em um curso gratuito logo mais aqui no site, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Obrigado pela resposta sempre atenciosa e importante! Não, não sabia que Freud dispôs o divã como sabemos pelo motivo que você me informou. Interessante! Sei que psicólogos há que, inobstante muito competentes, são muito tímidos. Bom que a timidez não atrapalha o exercício profissional. Sei que há atores e cantores que no palco são de uma extroversão invejável; fora dele, são irreconhecíveis. É a tal da super-compensação ou sublimação. Eu, esforço-me muito para ao menos no “palco da vida” dar meu recado. Meu desempenho continua péssimo. Hoje, 25.03.2015, fui assistir a uma palestra. Fiz uma pergunta em função da exposição, pertinente, inclusive de natureza psicológica. Minha pergunta contrariava a tese do expositor. Ele se desconcertou, a platéia disse amém a ele. Eu quase nunca pergunto. Mas sempre, sempre e sempre que ouso perguntar fico pálido, taquicárdico. É uma sensação péssima. Opto por quase nunca perguntar. Opto pela zona de conforto. Mas gostaria de ficar “normal”.
Caro Professor Felipe,procurando sobre o assunto do sétimo filho,não o filme,mas uma curiosidade ,achei sua tese ou sua opinião ou o que estudou sobre,realmente interessante, objetiva ,curta e grossa.(apenas um ditado).Mas gostei sim,serviu muito pra mim mesma.É bom ouvir ou ler coisas que não te ferem para magoar,mas te trazem pra realidade,pois quando ferem,dependendo do seu estado físico ou psicológico pode piorar as coisas na sua concepção e fazer você pensar e fazer pior.A realidade daquele que te fala mostra e demonstra que para ele o que você vai fazer é somente de seu livre arbítrio, mas sem mostrar você o faz refletir sobre Ele mesmo sem se importar com o que os outros pensam ou possam falar mas o que realmente tudo aquilo pode ser para Ele mesmo.Interessante…
Parabéns!É bom ver pessoas ainda querendo o bem do próximo com a realidade dele e não somente com o que aconteceu a muitos anos ,falando é claro da psicologia e psicanálise.
Um abraço.
Janaina
Olá Janaina!
Obrigado querida!
Descobrir como se aceitar pra mim é o x da questão e não para por ai. Uma vida com mais de tres decadas nesta terra, fazer está mudança, quantas dores trará, para vim para fora e nos tirar da acomodação.