Olá amigos!
Existem duas dinâmicas dentro da psicologia que são muito fortes. A primeira é mais intensa e, justamente por isso, não muito recomendada. Em resumo, imaginamos como seria o nosso próprio velório. A segunda, parecida nos objetivos e um pouco mais leve, nos leva ao nosso aniversário de 80 anos.
Devemos imaginar que pessoas importantes da nossa vida estão ali, ainda que muito velhinhas, e que estão fazendo uma homenagem pelo nosso dia. O que as pessoas falarão de ti? Como elas descreverão como foi a sua vida?
O que as pessoas dirão de ti em seu aniversário de 80 anos?
Certa vez eu vi um filme que falava que, à medida em que vamos ficando mais velhos, ficamos menos preocupados em obter sucesso e ganhos de todos os tipos e mais preocupados com o que vamos deixar. O que vamos deixar para as pessoas ao nosso redor e, principalmente, com a imagem que vamos deixar de quem somos.
E é este justamente o grande objetivo destas duas dinâmicas. Entendo que pode ser até muito angustiante pensar em ter 80, 90, 100 anos ou pensar na própria morte. Porém, estas não são as nossas únicas certezas absolutas? De que vamos envelhecer e de que vamos morrer um dia?
Lembro de uma mulher, uma americana, que gostava de assistir ao antigo programa da Oprah. Em um dos programas ela se deparou com a questão: – “O que eu estou deixando para o mundo?”
Depois de matutar bastante na pergunta, ela decidiu criar uma força-tarefa para ajudar comunidades paupérrimas na África, doando alimentos e construindo casas.
Mas esta foi a resposta dela. Qual será a sua?
O sapato que serve no pé de um, não serve no pé de outro
Para estas duas dinâmicas, não existe uma resposta correta. Esta mulher decidiu prestar a sua colaboração em um país distante. Outra pessoa pode querer adotar uma criança abandonada pelos pais em sua cidade e outra pode querer desenvolver uma pesquisa, em uma área específica do saber, para ajudar as próximas gerações.
Por isso, o sapato que serve no pé de um, não serve no pé de outro. Cada um parte de uma condição familiar, social e econômica e a partir de sua individualidade deve buscar sua própria resposta. O ideal é que a resposta não seja um “tanto faz” ou uma resposta acomodada e que não mexe com os sentimentos.
Pois não fazer nada é também fazer alguma coisa. E o que se fez e se faz hoje será o que teremos construído para o futuro.
Alguém pode perguntar, mas qual é o problema de não fazer nada? O problema é que certamente haverá arrependimento e, segundo pesquisas, encontramos 5 grandes arrependimentos ao final da vida:
Os 5 maiores arrependimentos antes de morrer
– Ter deixado de ter contato com os amigos;
– Não seguir os seus próprios sonhos (e seguir o sonho dos outros, pais, familiares, de uma moral);
– Ter trabalhado muito e não ter aproveitado melhor o tempo;
– Não expressar os próprios sentimentos;
– Não ter se permitido ser feliz
Leia também – 5 maiores arrependimentos antes de morrer
São estes os 5 principais. Creio que poderíamos acrescentar outros, mas todos vão acabar caindo no:
“Eu gostaria de ter tido a coragem de viver uma vida verdadeira para mim mesmo, não a vida que os outros esperaram de mim”
Em resumo, viver os próprios sonhos. James Hillman gostava de citar uma passagem de um poema do fantástico poeta Keats (o mesmo que dizia que a verdade é beleza e a beleza verdade). Keats dizia que o mundo é o vale de fazer almas (the vale of soul-making).
Fazer alma. Fazer psique. Enquanto estamos vivos estamos criando uma alma, uma psique. A nossa própria alma, a nossa própria psique. Por isso é quase um crime ser subverniente.
Curioso que é fácil ver semelhança com a primeira frase da autobiografia de Jung, na qual ele diz: “Minha vida é a história de um inconsciente que se realizou. Em alemão: “Mein Leben ist die Geschichte einer Selbstverwirklichung des Unbewußten”.
Selbstverwirklichung. Autorealização. Individuação. Vida-energia (inconsciente) para vida-consciência.
Curioso também como o último lema do fim de análise para Freud era semelhante a Keats, Hillmann e Jung: “Wo Es war, soll Ich werden”. Aonde estava o Id (Es), deve advir o Eu (Ich)”.
Conclusão
Talvez mais forte do que a dinâmica do próprio velório ou do aniversário de 80 anos não seja a morte ou o envelhecimento, mas a percepção de que não estamos levando uma vida autêntica. A mulher que vê televisão poderia sonhar que, em sua festa de 80 anos, as pessoas estariam dizendo que ela era uma pessoa boa, caridosa, abnegada. Mas ela não será isso se continuar sentada no sofá vendo TV. Mas será se mudar sua rotina e começar a ajudar as pessoas que precisam muito.
Em outras palavras, sabemos – no fundo – quando estamos fazendo o que temos que fazer e quando não estamos. A morte e a velhice são um processo natural. Contudo, não é natural não utilizar o tempo até lá para se realizar, para transformar o id em mais eu, para fazer deste mundo o vale de fazer a própria alma.
Muitas verdades nessa postagem, principalmente na parte de viver pelos outros. Muitas vezes queremos ser tudo o que a sociedade impoe, e esquecemos de que nosso futuro é determinado por nossas escolhas, e não pelas opiniões alheias….
E se você simplesmente não consegue agir? E se você quer mudar de vida mas não tem nada que te motive a partir para a ação?
Excelente texto.
Lembrei de uma frase do Chico Xavier:
“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”.
Viva melhor, sorria, ajude pessoas, seja generoso e agradeça. Transforme-se! Abs,
Mais uma vez um texto fantástico…acho que pra mim era mesmo o que precisava ler…trabalho desde meus 16 anos no comercio da família de meu esposo , bom hoje estou com 37 e a dois anos comecei a me perguntar se continuando assim com trabalho que tenho como vai ser ao longo dos anos??? se alguém um dia me perguntou se eu era feliz neste tipo de trabalho? já que abandonei meus estudos pra me dedicar a família e
‘ ao balcão” enfim minha paz sumiu a dois anos…rsrsrs quero voltar a estudar e fazer uma faculdade..e por que não????
Interessante constatar que sempre estamos insatisfeitos com alguma coisa em nossas vidas, nunca nos sentimos completos, realizados, felizes.
Na grande maioria somos eternos insatisfeitos e desgostosos do que possuímos, mas não é este o ”gás” que nos move a sairmos do lugar??
Se estamos satisfeitos e felizes ,porque lutaríamos por algo diferente daquilo que já possuímos??
Em certos momentos a insatisfação é boa, nos faz agir.
Mas quando nos encontramos em uma zona de conforto , onde tudo está perfeito, ficamos como se estivéssemos com os pés sobre areia movediça, e o caminhar se torna mais difícil.
A grande maioria da humanidade vive de acordo com os padrões que a sociedade impõem , tentando de toda maneira ser o que a sociedade quer e acha certo. Abdicar dessa ideia, ”chutar o balde” e sermos o que nossa vontade deseja é tido como incoerente, insensato, e certamente nos trará transtornos e dores de cabeça.
Como agir em um mundo onde ”pisamos em ovos” o dia todo, cuidando para nos mantermos seres sensatos e condizentes com o que esperam de nós???
Olá Elenara!
Esta é uma pergunta sobre a qual devemos refletir constantemente.
Segundo os sociólogos e psicólogos sociais, ao longo dos últimos séculos houve uma profunda transformação que aumento em muito a importância da individualidade. Ou seja, antes e desde o século XV cada vez menos, o que tinha validade era a identidade-nós. Agora e cada vez o que tem validade é a identidade-eu. Vemos isso inclusive nas gerações mais novas.
Fato é que existirá conflito. Mas temos que saber avaliar a partir de dentro o que é correto (para nós) e o que é apenas uma repetição do mesmo.
Se fizéssemos sempre o que foi feito pela sociedade e pelas gerações anteriores, ainda estaríamos andando de carroça.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
obg mais uma vez!! enriqueceu ainda mais minhas ideias! ;)
um forte abraço