Olá amigos!
Recebi esta semana uma dúvida muito interessante de um leitor sobre um tema que já estava em nossa pauta de novos textos. A dúvida, em poucas palavras, era como ter uma vida com mais estabilidade emocional, ou seja, o que fazer para não variar tanto nas emoções e não ter tantos altos e baixos? Neste texto, vou procurar responder a esta dúvida, através de um conceito geral das emoções e do conceito de identidade de um interessantíssimo filósofo francês, Paul Ricoeur.
O que é uma emoção?
Na psicologia, existem diversas teorias das emoções, teorias dos afetos, da libido. Iríamos muito longe, em espaço e tempo, se fôssemos adentrar este riquíssimo campo de pesquisas. Para fins didáticos, devemos compreender as emoções como movimento. Etimologicamente, ou seja, pela origem das palavras, também encontraremos o mesmo sentido: emoção vem de emovere, do latim e + movere. Em síntese, mover para fora (e ou ex).
Portanto, emoção significa se mover, significa movimento. Por isso, até certo ponto, é um contrassenso pensar em uma emoção estável, já que a estabilidade tende para a ausência de movimento. Estase significa paralisação.
Mas, óbvio, o que o leitor queria dizer era como conseguir manter um mesmo tipo de emoção, ao longo do dia, da semana, do mês. Como fazer para parar de alternar entre emoções de alegria e tristeza, raiva e tédio, amor e paixão, mágoa e preguiça? Claro que, se isto for possível, vamos desejar manter uma estabilidade emocional de emoções positivas, como paz, tranquilidade, felicidade.
Como ter estabilidade emocional?
Quando estava fazendo a faculdade de psicologia, tive um colega – da faculdade de economia – que, sempre que eu perguntava para ele como ele estava, ele dizia: “Estou estável”. E, para quem estava de fora, a sua resposta era a mais pura verdade. Ele sempre estava estável, sempre estava do mesmo modo. Todos os outros calouros estavam excitados com a nova vida, mudança de cidade ou região, ansiosos para aprender, às vezes tristes com términos de namoro de anos do segundo grau, enfim, com sentimentos à flor da pele. E este rapaz dizia sempre: “estou estável”. O contraste era muito evidente.
Como este meu colega tinha tanta estabilidade emocional?
Bem, a primeira resposta que podemos obter é que as pessoas são diferentes. Por isso, se duas pessoas vivem uma experiência, cada um terá uma emoção. Se formos pensar em longos períodos, falamos em personalidade, o que permanece idêntico no jeito como a pessoa age, fala, pensa, etc.
Como disse no início, um dos conceitos mais fecundos para pensarmos em personalidade é o conceito de identidade do filósofo Paul Ricoeur. Embora o conceito de identidade e o conceito de personalidade não sejam sinônimos, possuem uma íntima relação.
A identidade é o que somos ou o que pensamos ser. Se pergunto para você quem é você, você terá que, necessariamente contar uma história. Por exemplo, se eu fosso responder à mesma pergunta teria que dizer: Sou psicólogo, moro em São Lourenço atualmente, tenho uma filha, etc, etc. A identidade, portanto, é indissociável da história, da narrativa pessoal. Pronto, temos o conceito de identidade narrativa, do Ricoeur.
Como ele é um filósofo, o pensamento segue sendo pensando. Como este conceito pode abarcar as mudanças e permanências? Será que somos como um rio, sempre a mudar ou mais como uma rocha, que (ao menos a olho nu) continua todo o tempo igual?
Nem oito, nem oitenta. É verdade que mudamos e é verdade que permanecemos. Ricouer então amplia o conceito de identidade narrativa e inclui um recorte: temos a identidade idem e a identidade ipse. Em outras palavras, dentro do conceito de identidade vemos um entrelaçar entre o permanecer (identidade idem) e o mudar (identidade ipse).
E o que tudo isto tem a ver com as emoções e com a estabilidade ou instabilidade emocional?
Bem, analisando uma personalidade, uma identidade, podemos ver que uma pessoa continua relativamente idêntica ao longo dos anos. Este meu colega, estável nas suas emoções, continuou muito parecido até o final da faculdade (a última vez que o vi). Portanto, durante cinco anos ele continuou estável emocionalmente. Esta é a sua personalidade, sua identidade idem, a identidade que não muda.
Assim, vamos encontrar pessoas que são como uma “rocha” e parecem nem sentir. E também vamos encontrar as pessoas “manteiga derretida”, que são volúveis, inconstantes como o vento e ora estão alegres e iluminadas com o sol e ora estão tristes e macambúzias. Este último tipo de personalidade é paradoxalmente o que permanece o mesmo, quer dizer, enquanto certas pessoas são estáveis e isto é a sua personalidade idem, outras são instáveis e a instabilidade representa por sua vez a faceta de sua personalidade que não muda. Dizendo deste modo fica até engraçado: o que não muda na pessoa é a mudança…
Bem, temos então que para responder à pergunta da estabilidade das emoções, podemos começar pela personalidade e identidade. Agora, é possível mudar a personalidade, é possível se aproximar do que Ricoeur chama de identidade ipse e conseguir obter uma mudança maior e maior autoconsciência?
Penso que sim, embora o caminho possa ser tortuoso. Como controlar as emoções? Como refrear o impulso interno de se mover? Afinal, se emoção é se mover para fora, podemos encontrar vários tipos de movimento, certo? E se o objetivo é manter um mesmo movimento – como manter a emoção de paz – como fazê-lo?
Imagine um lago de águas calmas. Se você joga uma pedra, cria-se um movimento ondulatório. Dependendo da intensidade, o movimento pode ser mais alto ou mais baixo, mais curto ou mais rápido. Esta é uma boa imagem, uma boa metáfora para as emoções. Uma emoção é como uma vibração que é ativada a partir de um estímulo. Havendo um estímulo, há uma emoção. Porém, conosco não ocorre o que ocorre com a pedra na água. Por termos consciência e vontade, podemos controlar a compreensão do estímulo, o modo como somos atingidos e manter ou mudar a emoção que se segue.
Por exemplo, se uma pessoa diz alguma coisa desagradável – como uma ofensa – há o estímulo auditivo, o som, que atinge os ouvidos e é levado até o cérebro. O cérebro transforma este som em um sentido, reconhecendo-o como desagradável. O corpo como um todo, imediatamente, passa a sentir sensações de desprazer e é contra estas sensações que lutamos, revidando a ofensa, sentindo ódio, repulsa, desgosto ou outro sentimento próximo e negativo.
O caminho poderia ser outro. O som externo poderia ser ouvido, reconhecido e causar nenhum transtorno. Um som é apenas um som, um barulho, um ruído. Como reagiríamos ao ouvir uma ofensa em chinês? Uma ofensa em chinês é apenas um som. Em português, também. Uma onda sonora que logo desaparece…
Este é apenas um exemplo, entre muitos outros que poderíamos dar, de como podemos controlar nossas emoções e ter e manter a estabilidade, desde que consigamos compreender o funcionamento das emoções e desde que consigamos ter autoconsciência.
Por último, gostaria de mencionar uma excelente técnica descrita pela PNL. Os pesquisadores da PNL descobriram uma mulher que também possuía grande estabilidade emocional. Mesmo com os eventos mais traumáticos e dolorosos, ela se mantinha tranquila. Ao perguntarem para ela, o que ela pensava e imaginava quando algo ruim acontecia, ela explicou: quando algo ruim acontece, eu me imagino como se eu saísse do meu corpo, eu vejo minha alma flutuando para cima, no lugar aonde estou e rápido estou flutuando cada vez mais alto, posso ver a cidade, depois o estado, depois o meu país, até estar tão longe que posso ver a terra toda. Quando posso ver a terra toda, tento ver o problema, a situação ruim que está acontecendo, e lá, do alto, o problema se torna algo tão, mas tão pequeno, que não pode me atingir.
Bom dia grande Felipe, gostei dessa matéria, muito boa, nos traz otimismo de verdade. Parabéns !
Olá Maria de Fátima!
Obrigado querida!
É um prazer para mim contar com sua presença por aqui!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe! Amei essa reportagem e digo mais, a importância das coisas está na importância q você dá a elas. Muito legal !
Olá Nati!
É verdade, tudo depende do interesse ou da libido ou da importância que colocamos nos eventos. Muito bem colocado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Oi ótimo texto ! Obrigado por escrever para um monte de “desconhecidos” como eu, e ainda chamá-los de amigos ! Muito Bom…
olá Felipe! adorei ler a matéria, gostaria de ser estável, mas com o dia dia em que vivemos é impossível ,um forte abraço para você e sua família.
Olá Vanessa!
Fico muito feliz que tenha gostado do texto!
Então, estou ainda aprendendo a utilizar este envio de emails para todos. Em breve, vou melhorar ainda mais, rsrs
Existe uma opção que estou estudando de enviar emails individuais também! =)
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Leandra,
Não diria que é impossível. Penso que é uma questão de encontrarmos o nosso “centro”. Quer dizer, os estímulos externos sempre vão mudar, morando em uma cidade tranquila, na roça ou em uma metrópole. O centro é uma outra palavra para o sentido, o significado mais amplo que envolve nossos valores mais altos, a nossa concepção sobre a vida.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Estabilidade emocional, equilíbrio, é uma das coisas que mais busco. Mas o fato de ser mulher não ajuda, pois quando penso que estou me equilibrando vem a TPM e o turbilhão de hormônios leva consigo o meu alicerce de estabilidade.
Abraço Felipe!
Olá Laura,
Neste caso, temos que pensar em uma estabilidade cíclica, com mudanças determinadas em algumas semanas.
Como dizia o psicólogo humanista Carl Rogers, a aceitação é o primeiro passo para a mudança…
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá, Felipe!
Leio todos os seus textos e te admiro muito como profissional! Você me ajudou a ver a psicologia de uma maneira diferente e este ano começo a faculdade.
Obrigada pelo encorajamento e dedicação que são expostos por você através da escrita.
Att.
Olá Stephannie,
Fico muito feliz que esteja acompanhando os nossos textos!
Você vai começar a faculdade de psicologia?
Obrigado pelos elogios =)
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Sim, vou começar a faculdade de psicologia! Você é o grande culpado por isso! To contando com sua ajuda para os trabalhos e dúvidas rss
Att.
muito bom, gostaria de saber sobre o assunto
Olá Stephannie!
Imagine, eu ser culpado de você querer fazer psicologia, rsrs.
Bem, espero que você goste do curso e possa se realizar profissionalmente!
Estarei por aqui sim, caso tenha dúvidas, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Solange,
Fico feliz que tenha gostado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Muito bom, sempre leio seus artigos o que depois me rende horas de proveitosas reflexões. “Como ter mau humor se nunca é contrariado” Acredito que seja mais ou menos isso que escreveu Emily Brontë em “O morro dos ventos uivantes”. Eu considero que dentro da minha grande família eu fui a pessoa mais instável emocionalmente até bem pouco tempo, porém também noto que sou a única que percebeu que se pode pensar além dos limites das crenças e aos poucos me libertar do cárcere emocional até mesmo da rigidez intelectual que certas “culturas” provocam. Não foi fácil, até eu perceber que eu não deveria dar importância as avaliações, opiniões a meu respeito, ao meu modo de agir, pensar…Ao mesmo tempo manter o respeito a todos. Me rebelar teve um alto custo emocional, físico, e até os dias atuais eu luto contra as doenças. Tenho buscado isso, mais estabilidade. Tenho conseguido, mas eu duvidava,passei me colocar à prova, principalmente ouvindo o que as pessoas tinham a dizer sobre mim, sobre minhas escolhas… Nas primeiras vezes eu ainda debati, me ofendi, mas depois fui me habituando, até chegar ao ponto em que eu não tive mais medo de expor meus pensamentos, não me preocupar em ser aprovada ou não… Claro que não é somente isso, a estrada é longa e continua. Porém, é como se eu tivesse deixado de olhar o mundo por uma fresta, isso me liberta da ansiedade cada vez mais. Cada ser é único, cada um tem sua ação, reação em situações iguais ou parecidas. Algumas sofrem menos, outras mais…
Quero deixar aqui o meu sincero agradecimento a sua tão preciosa colaboração ao escrever, responder, sugerir… Eu li o livro que você sugeriu, “A arte de viver” .Digo que foi mais uma janela aberta, mais um passo para compreender a importância de não dar tanta importância a determinadas coisas, assuntos…
Um abração, obrigada.
Olá Fran,
Obrigado por comentar!
A questão da instabilidade/estabilidade emocional é realmente muito delicada. Eu complementaria a questão da Brontë com a ideia de Schopenhaeur. Alguém que não tenha contrariedades, por exemplo financeiras, ou seja, tenha muito e muito dinheiro e praticamente tudo disponível o tempo todo, pode não ter contrariedades, mas tem tédio… engraçado, não?
Dai a pessoa oscila entre o tédio, a raiva (por querer tudo na hora) e a tristeza (quando falta, por alguma eventualidade).
Bem, o que mais dá estabilidade, em minha opinião, é a meditação vipassana. Escrevi um texto sobre, veja aqui
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Obrigada!!
Muita paz e sucesso pra nós neste ano!
Abraço.
Felipe!
Tenho dúvidas sobre cursar psicologia ou jornalismo. Acho que já li em um dos teus textos, que tu tinhas esta mesma dúvida.
Como tu fizeste para decidir? Não consigo tomar nenhuma decisão, estou parada na vida, vendo tudo passar. Me ajuda.
Olá Fernanda!
A decisão entre fazer uma faculdade ou outra é bastante individual.
Eu acabei optando por psicologia por gostar muito e por ter mais oportunidades de trabalho. No fundo, o que eu queria com o jornalismo era escrever (o que faço aqui no site).
Recentemente conversei com uma ex-diretora de Revistas da Editora Abril e ela me disse que a faculdade de jornalismo é bastante técnica. O ideal é juntar o jornalismo com uma segunda formação. Ser um jornalista da economia, da política, da saúde, etc.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe!
Sou estudante de psicologia e atuo com Desenvolvimento Humano. Buscava algo sucinto que pudesse auxiliar no meu atual projeto e o seu texto me abriu os olhos para várias oportunidades de abordagem.
Uma linguagem clara, que facilita o entendimento à todos os leitores.
Adorei. Parabéns!
Olá Amaranta!
Fico muito feliz que tenha gostado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Caramba! Isso era tudo que eu precisava. Mas como lidar com isso quando estamos bêbados rs?
Olá Eliza,
A bebida pode realmente exacerbar esta instabilidade emocional. Portanto, o melhor seria evitar, como se diz, “o primeiro gole”.
Atenciosamente,
Felipe de Souza