Hoje é comemorado o dia do psicólogo e da psicóloga, claro. Em todo aniversário acho fundamental avaliar como estão as coisas. Bem, eu vou aproveitar a data e escrever sobre um texto mais geral sobre ser ou não ser psicólogo e o que eu aprendi em 7 anos de profissão. É engraçado olhar para trás e ver que já se passaram 7 anos desde que me formei  em 17 de julho de 2006. Um dia antes, em 16 de julho, eu estava completando 22 anos. 2595 dias depois, o que eu posso contar para vocês sobre ser psicólogo, no dia do psicólogo?

A psicologia é uma profissão para mulheres?

Antes mesmo de me formar eu ouvia algumas coisas a este respeito. Evidentemente que a profissão tem mais mulheres do que homens atuando. Em minha sala de psicologia, éramos 35 alunos. Destes, apenas 5 eram homens. Podemos dizer que a proporção chega a 90 por cento no Brasil. Para quem quiser saber mais detalhes, pode ler este texto:

Quem são as psicólogas brasileiras?

Mas afinal, isto influencia em alguma coisa? Claro que não. Depois quando fui trabalhar com Recursos Humanos e convivi de perto com o mercado de trabalho para praticamente todas as profissões, vi que, no caso da psicologia, não podemos falar em preconceito por questões de gênero. Ou seja, ser homem ou mulher não interfere na carreira. Pois, se a proporção de mulheres é maior, poderia haver uma espécie de preconceito por parte das empresas com relação à atuação masculina. O que não é o caso.

Já no consultório, é normal que as pessoas tenham suas preferências. Certas pessoas preferem ser atendidas por mulheres, enquanto que outras por homens. Isto é totalmente normal (também acontece em outras áreas da saúde, é só nos lembrarmos que existem milhares de ginecologistas homens) e, na clínica psicológica, o sexo pode até afetar em um outro momento do tratamento. Mas isto é mais raro e acontece quando há resistência por parte do paciente a partir de uma transferência para o profissional.

Por exemplo, um homem pode ter transferência com um psicólogo. Depois de meses ou até anos, aparece uma resistência com relação ao fato de ele ser homem. E pode ser recomendado mudar para o tratamento com uma mulher. Mas este fenômeno é mais raro. Em geral, o paciente já escolhe a pessoa – independente do sexo – antes de começar a sua terapia.

Psicologia e psicoterapia e psicanálise e psiquiatria

Este título é interessante e para quem não é da área pode ser um pouco confuso entender as diferenças. Para quem não tem a mínima ideia do que estamos falando, recomendo os nossos textos:

Diferença entre psicólogo, psicanalista e psiquiatra

Porque fazer a faculdade de psicologia

Bem, existe uma grande diferença entre estas 4 áreas de atuação. Elas podem ser até conciliadas em um trabalho interdisciplinar ou até serem utilizadas pelo mesmo profissional. Porém, nestes 7 anos vejo que as pessoas realmente não sabem a diferença e este não é um erro delas. Apesar de os nomes serem relativamente parecidos (por conterem a letra grega psi, de psique, alma) o erro acaba sendo dos profissionais que não conseguiram divulgar as diferenças.

O principal problema para nós, psicólogos, é receber pacientes no consultório que desejam receitas de remédios para os seus males. Quem vende esta solução mágica são os psiquiatras que criaram a misteriosa fórmula médica de ter um remédio antes de saber exatamente como atuam as causas da doença. Para mim isto continua sendo um mistério e em muitos casos um crime contra a humanidade. Pois, ao venderem estas fórmulas mágicas (basta nos lembrarmos do Prozac – a pílula da felicidade – e da Ritalina – a pílula para que as crianças deixem de serem crianças), eles não só não solucionam os problemas como causam outros. Os sintomas colaterais acabam sendo um problema a ser tratado no consultório do psicólogo.

Para vocês entenderem o que eu estou falando, vou indicar este texto – Por que as crianças francesas não tem déficit de atenção?

Obviamente existem psiquiatras bons e conscientes do fato de que a medicação não é a única saída para um dado problema psíquico. Mas muitos, e são muitos mesmo, são apenas revendedores de drogas (farmacêuticas). Basta a indústria farmacêutica inventar um novo remédio para uma doença (digamos, depressão) e ter sido testada em pouquíssimas pessoas para ser considerada por eles o melhor remédio que há. Então, surge algo totalmente sem lógica. É o melhor medicamento para uma doença que não se sabe a causa, o mais inovador e eficiente, embora tenha sido testado em poucas pessoas, e é o melhor porque é o mais caro e lucrativo para quem o produz…

Para nós que trabalhamos com consultório é complicado ir contra esta corrente (que possui muito dinheiro para vender através do marketing suas drogas maravilhosas). O fato é que acabamos recebendo na clínica pessoas que tem duas doenças. A doença mesmo e a doença dos efeitos dos remédios psiquiátricos.

Com relação às outras duas profissões próximas, não vejo em minha experiência muitos problemas. Afinal, ao trabalharmos com clínica também utilizamos técnicas psicoterapêuticas e muitos psicólogos também são psicanalistas.

Um fator engraçado com relação aos psicanalistas reside no fato de alguns não saberem exatamente como funciona a análise. Então, constantemente recebo pacientes que dizem que não queriam ir mais no psicólogo pois o psicanalista só ficava em silêncio durante toda a sessão e não falava nada. Estes são os profissionais que não estudaram, nunca fizeram supervisão, e não sabem o que é a atuação real de um bom psicanalista. O silêncio faz parte mas a interpretação é tão importante quanto.

Ser psicólogo dá dinheiro?

Esta é uma pergunta que escuto muito. Em diversos textos aqui no site eu já toquei neste assunto.

Vejam também: Como é o mercado de trabalho – Psicologia

Por que os psicólogos ganham tão mal?

Bem, vou dizer então um pouco sobre a minha experiência nesta parte. Eu responderia que sim, a psicologia é uma área promissora, que pode nos trazer um bom salário, uma boa remuneração. Porém – e este porém pode ser fundamental – tudo vai depender de onde você está, com o que você trabalha e quais são os seus contatos profissionais.

Trabalhar em uma grande cidade como São Paulo pode ser ótimo. Mas dependendo da sua experiência e de seus contatos você pode ganhar muito pouco – para o padrão de vida paulista. Se você vai para uma região afastada do Brasil, pode vir a ganhar muito bem, mas há o outro porém de ficar distante de sua região natal e de sua família.

O fato é que o Conselho Federal de Psicologia vem trabalhando por um piso salarial melhor e por menos horas de trabalho semanal. Afinal, trabalhar 40 ou 44 horas no consultório é extremamente exaustivo.

Enfim, é uma área que permite boas possibilidades. Se estas possibilidades vão se concretizar ou não vai depender de uma série de fatores, inclusive da experiência, da formação acadêmica, do networking, da disposição em trabalhar em uma ou outra área, entre outras questões.

Eu só não recomendaria a alguém fazer a faculdade de psicologia pensando exclusivamente no salário. Se o dinheiro vem em primeiro lugar, e se a pessoa não se importa de trabalhar em um área que não gosta, existem outras profissões mais “lucrativas”. Mas em minha opinião, trabalhar em uma área de saúde apenas pelo dinheiro nos faz péssimos profissionais. Como se diz, existem muitos psicólogos, médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas que são mendigos. Ou seja, estão em profissões maravilhosas que servem diretamente a sociedade, mas estão nelas apenas pela grana. Com isto, são profissionais incapazes de ajudar realmente quem precisa.

Conclusão

Depois de 7 anos de profissão, posso dizer que me sinto realizado. Ter podido ajudar tantas pessoas no consultório e através da internet na Orientação Psicológica Online me deixa realmente muito feliz. Em 2002, entrei na faculdade de psicologia da Universidade Federal de São João del-Rei e, passando pelo mestrado e agora concluindo o doutorado, esta história me traz o sentimento de realização e de gratidão por estar podendo estudar para ser cada vez mais um profissional mais capaz.

O nosso site – que como vocês sabem atingiu a marca de 1 milhão de acessos – também é fruto do nosso esforço para informar a todos sobre a psicologia e suas várias abordagens. E é como muita alegria que eu recebo emails e comentários de pessoas de todas as regiões do mundo. Ontem mesmo eu recebi um email de um estudante de psicologia da Angola! É fantástico ter todo este contato!

Ser psicólogo para mim é ter coragem de se aventurar no autoconhecimento e ajudar outras pessoas a fazê-lo.