Jean Piaget (1896-1980) foi um epistemólogo suíço e também o nome mais influente na esfera da Educação durante a última metade do século XX. Foi a principal figura do estudo acerca do desenvolvimento cognitivo. Todavia, Piaget era biólogo por formação (estudou na Universidade de Neuchâtel) e se dedicou a observar, de modo científico e rigoroso, o processo da aquisição do conhecimento pela criança.

O desenvolvimento de suas pesquisas permitiu que fundasse a Epistemologia Genética – teoria do conhecimento embasada no estudo da gênese psicológica do pensamento do homem. O presente texto divide-se em duas partes: a primeira parte consiste em uma pequena biografia do autor enquanto a segunda parte aborda os 4 estágios do desenvolvimento cognitivo.

Jean Piaget

Piaget foi convidado por Simon a trabalhar no laboratório de Binet com a finalidade a ajudar a padronizar alguns testes de raciocínio. Todavia, o suíço se interessou pelas razões que levavam o aluno a fracassar nas respostas dos testes lógicos. Nesta época, inicia, pois, sua pesquisa acerca do pensamento infantil e dedica sua vida a elaborar uma teoria geral do desenvolvimento da inteligência lógica.

A extensa obra de Piaget causou interesse nos educadores por problematizar o desenvolvimento da inteligência e a construção do pensamento. Sua teoria foi nomeada de Construtivismo. “O objeto de estudos piagetiano é, portanto, a construção do conhecimento a partir de sua gênese no sujeito cognoscente” (DESLANDES, 2006, p.36). Esta epistemologia ficou conhecida como epistemologia genética, já que se refere ao estudo da gênese do conhecimento. O foco de Piaget é o sujeito epistêmico e este, por sua vez, é definido como aquele que constrói o conhecimento científico do mundo. Fica evidente que o problema central da obra piagetiana cerceia a questão de como os homens constroem o conhecimento.

Com a finalidade de solucionar este problema, o epistemólogo usufruiu de uma metodologia clínica e por meio desta criava situações–problema e observava, de forma interativa, o modo como as crianças resolviam essas situações. Este método foi caracterizado como o estudo profundo dos casos individuais, e se dá através da interação entre examinador e examinado. Deste modo, Piaget deixava que a criança dirigisse a entrevista, mas sem perder o objetivo da mesma. O pesquisador foi considerado revolucionário por mostrar que a criança possui uma maneira própria de pensar.

As 4 etapas do desenvolvimento cognitivo

A classificação do desenvolvimento cognitivo em quatro etapas aponta para o fato de que todos os indivíduos passam por várias mudanças previsíveis e ordenadas. Isto significa que todos os indivíduos vivenciam todos os estágios do desenvolvimento cognitivo, na mesma sequência, todavia início e término dos estágios varia de indivíduo para indivíduo – devido às peculiaridades individuais de ordem biológica ou ambiental. Piaget separa o processo cognitivo inteligente em dois importantes conceitos: “aprendizagem” e “desenvolvimento”. “Aprendizagem” diz de uma resposta particular, aprendida através da experiência e que é adquirida de modo sistematizado ou não.

“Desenvolvimento” é considerado uma aprendizagem de fato e, assim sendo, a responsabilidade da formação do conhecimento é do desenvolvimento. Para Piaget, a aprendizagem ocorre através dos processos de assimilação e de acomodação, e, ainda, através dos esquemas. No processo de assimilação, o sujeito cognitivo busca englobar as informações vindas do meio a fim de aumentar seu conhecimento. Durante este processo, há uma seleção natural dos principais conteúdos. O processo é controlado pelas estruturas mentais que existem previamente no sujeito. Já no processo de acomodação, ocorre a retenção das informações que constituem seu repertório cognitivo: “A acomodação ocorre quando a organização mental se modifica para acomodar as informações assimiladas pelo sujeito” (Deslandes, 2006, p. 41). Como se pode notar, os conceitos de assimilação e de acomodação são complementares.

Iniciaremos, pois, a abordagem sobre os Estágios de Desenvolvimento Cognitivo propostos por Piaget. O Estágio Sensorial – motor se dá de 0 anos até aproximadamente 2 anos. Quando o bebê nasce, possui padrões inatos de comportamento e, como exemplo, tem–se o ato de agarrar, sugar, etc. Durante este estágio, a criança desenvolve sua motricidade e seus mecanismos sensoriais. O contato da criança com o mundo e o início da exploração do mundo instaura-se nesse estágio. A criança desenvolve um conhecimento prático do mundo que a cerca. As mudanças e o desenvolvimento do comportamento ocorrem como produto da interação entre os padrões inatos e o meio ambiente. O bebê passa a construir esquemas para assimilar o ambiente.  Vale expor um pouco melhor o conceito de esquema, tão importante na teoria abordada.

“Esquema” era um conceito visto por Piaget como um conjunto de ações interiorizadas as quais podem ser repetidas e generalizadas. Com a finalidade de se adequar às situações desafiadoras encontradas no ambiente, estas ações são utilizadas pelo sujeito. O esquema é mantido somente enquanto tem sucesso. Durante o estágio em questão, a inteligência do bebê é prática e pré-verbal. O bebê tem a si mesmo, seus movimentos, seu corpo como objeto de seu interesse. O estudioso russo nomeou esse interesse por si mesmo de egocentrismo geral. Ao alcançar o fim desse estágio, a criança já se situa em um universo que é exterior a ela.

O segundo estágio é o de Pré–operações e se estende desde aproximadamente dois anos até os aproximadamente 7 anos. Este período divide-se em dois subperíodos: o da Inteligência Simbólica (que vai dos 2 aos 4 anos) e o período intuitivo (vai dos 4 anos aos 7 anos). Como características deste estágio tem-se: o desenvolvimento da atividade simbólica, o desenvolvimento da linguagem, o uso de jogos simbólicos, o pensamento egocêntrico, a lógica intuitiva, o animismo, o finalismo, articificialismo e, por fim, a vida afetiva. Com o desenvolvimento da atividade simbólica, a criança passa a diferenciar o significante do significado. A linguagem é desenvolvida, liga-se fortemente à função simbólica e também permite o desenvolvimento das relações sociais cruciais. O uso de jogos simbólicos é também inerente a esta fase, pois é através das brincadeiras a criança recria a própria vida de modo a corrigi-la e de modo que transforma o real de acordo com seus desejos. Assim a criança vive novamente seus prazeres e soluciona seus conflitos. De acordo com Piaget, “o jogo simbólico seria uma assimilação deformadora do real ao sujeito” (DESLANDES, 2006, p. 45).

O egocentrismo consiste na dificuldade que a criança tem de se colocar no lugar do outro.  A criança no estágio pré–operatório sempre afirma algo sem demonstrar seus fundamentos de sua proposição; seus argumentos não são consistentes e tem grande dificuldade para definir os conceitos utilizados. O animismo seria a tendência da criança em atribuir vida e intenções à objetos inanimados. A criança ainda confunde seu mundo interior subjetivo com o mundo exterior, físico e objetivo. Os elementos humanos são utilizados pelas crianças de forma que explicam todos os fenômenos. O finalismo se dá quando a criança pergunta o por quê de tudo. O artificialismo seria a crença que a criança tem de que tudo foi criado pelo homem ou por um ser divino que trabalhe igual ao homem. Há, por fim, o desenvolvimento da vida afetiva, isto é, a criança desenvolve sentimentos como simpatias e antipatias. Surgem também sentimentos morais intuitivos e a regulação dos interesses e valores ligados à elaboração do conhecimento.

O estágio operatório é subdividido em concreto (que vai dos 7 anos até aproximadamente 12 anos) e formal (se dá a partir dos 11 ou 12 anos). Neste período, “a ação interiorizada se torna reversível” (Deslandes, 2006, p. 46). A criança operatória é capaz de imaginar a ação e também sua anulação. Volta ao ponto inicial de seu raciocínio sem entrar em contradição. Assim, já se mostra capaz de sustentar suas respostas. Outro exemplo de conduta interiorizada seria a reflexão da criança acerca dos resultados de sua ação.

Durante o estágio operatório concreto, as crianças passam a frequentar a escola e são alfabetizadas. De acordo com Piaget, há uma grande evolução (durante este estágio) no que se refere à concentração das crianças ao realizar trabalhos individuais e à colaboração dada nos trabalhos em grupo. Como a criança fica mais descentrada de si mesma, ou seja, a fala egocêntrica é abandonada quase totalmente, pode participar de jogos que dispõe de mais regras. Percebe-se também que reflexão começa a se dar e “caracteriza ainda o início da construção da lógica dialética que permite a coordenação de diferentes pontos de vista sobre um mesmo assunto ou tema” (Deslandes, 2006, p. 47).

Devido à redução do egocentrismo, a moralidade desenvolve-se, haja vista que o sujeito moral existe com a condição de que seja numa relação. O respeito pelas leis passa a ter outro sentido, não mais o de coação: há um respeito pelos princípios de moralidade autônoma. No que se refere às operações mentais, objetos concretos são utilizados com a finalidade de estabelecer as relações lógicas.

O estágio operatório formal tem seu início coincidindo com o período da adolescência. Neste momento, ocorrem várias mudanças quanto ao comportamento social e à afetividade – as quais relacionam-se às mudanças ligadas aos desequilíbrios enfrentados na puberdade e à maturação sexual. Neste estágio, a capacidade de se pensar em hipóteses através da dedução lógica e abstrata é desenvolvida.

Piaget mostra que estes estágios são lógicas possíveis do pensamento humano, e podem ser separados por meio das rupturas da cadeia lógica de pensamento. Todavia, todos os indivíduos passam por todos esses estágios do desenvolvimento cognitivo.

Referências Bibliográficas:

DESLANDES, Keila. Psicologia: uma introdução a psicologia Cuiabá: EdUFMT, 2006.

Michelle Vaz é graduanda em Filosofia