O suicídio é um problema sério que deve ser encarado de forma aberta e, na medida do possível, mais esclarecida possível.

Na verdade, temos que distinguir entre o ato consumado (o suicídio) e a tentativa de suicídio (que não se realiza). Há ainda os pensamentos a respeito da própria morte, o desejo que as vezes passa de por fim à própria vida.

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Definição de Suicídio

O suicídio é um fenômeno complexo, estudado por várias disciplinas científicas que o percebem de forma, às vezes, antagônica, outras complementar. De maneira geral, a psiquiatria tem encarado o suicídio como um fenômeno individual enquanto que as ciências sociais, percebem-no como um comportamento coletivo.

Suicidar-se corresponde em latim a occidere que significa cortar, esmigalhar, partir em muitas partes, ferir mortalmente (Kalina, 1981).

Segundo Kaplan e cols (1997), o suicídio é um “Ato consciente de aniquilação auto-induzida, melhor entendido como uma enfermidade multidimensional em um indivíduo carente que define uma questão para a qual o ato é percebido como a melhor solução” ou, simplesmente, a morte intensional auto-infringida. De forma alguma o suicídio é um ato aleatório ou sem finalidade, mas representa a saída para um problema que está causando um intenso sofrimento.

Suicídio: História no Brasil e no Mundo

Historicamente a atitude da sociedade em relação ao suicídio variou da admiração à hostilidade, punição, irracionalismo e até superstição.

Na Antiga Grécia, um indivíduo não podia se suicidar sem prévio consenso da comunidade porque o suicídio constituía um atentado contra a estrutura comunitária, ele seria considerado um transgressor da lei da polis. O suicídio era condenado política ou juridicamente. Eram recusadas as honras de sepultura tradicional ao suicidado e a mão do cadáver era amputada e enterrada a parte. Por sua vez, o Estado tinha poder para vetar ou autorizar um suicídio, bem como induzi-lo (Tota e cols, 1994)

Em algumas culturas ocidentais, era dever do ancião se matar para preservar o grupo onde a solidez poderia estar ameaçada pela debilitação do espírito que habitava o corpo do chefe de família (Tota e cols, 1994).

Os estóicos e epicureus viam o suicídio como uma solução aceitável para muitas situações intoleráveis de vida (Goulart, 1995)

No Egito, se o dono dos escravos ou o faraó morriam, eram enterrados com seus bens inanimados e seus servos, os quais deixavam-se morrer junto ao cadáver do seu amo. (Tota e cols, 1994).

Em Roma, o suicídio era julgado pelo senado. Neste país, legitimava-se a morte do senhor que se matava e condenando a morte do escravo suicidado. O senhor exercia sobre si mesmo o direito próprio de sua condição social, sendo amparado no espaço político pela lei pública. O escravo, porém, quando se matava, ia contra a autoridade do senhorio, contestando seu poder e diminuindo seu capital, o que era contra a lei familiar predominante. O gesto suicida, no cenário político, era condenado quando se tratava de um escravo porque o valor do ato era inseparável da condição social do indivíduo (Tota e cols, 1994).

Por vários séculos, a Igreja não teve uma posição específica sobre o assunto. De fato, os primeiros cristãos suicidavam-se em grande número por razões religiosas. Santo Agostinho e mais tarde São Tomás de Aquino definiram a posição da Igreja, vendo o suicídio como algo pecaminoso, como algo moralmente mau, sendo uma transgressão do mandamento “não matarás”. A Igreja recusava aos suicidas os ri­tos funerais e enterros. Normas proibindo suicídio tem sido fortes no catolicismo, protestantismo, judaísmo e islamismo. Somente as religiões orientais são mais tolerantes no assunto (Goulart, 1995)

Na Idade Média cristã, o suicídio é condenado teologicamente. A Europa cristã acaba com as diferenças entre o suicídio legal e ilegal: matar-se era atentar contra a propriedade do outro e o outro era Deus, o único que criou o homem e quem, portanto, deveria matá-lo. A vida do indivíduo deixa de ser um patrimônio da comunidade para ser um dom divino e matar-se equivale a um sacrilégio. O suicidado não tem direito aos rituais religiosos, seus herdeiros não recebem os bens materiais e se cadáver é castigado publicamente, podendo ser exposto nu ou queimado. Os suicidados são igualados aos ladrões e assassinos e o Estado e a Igreja fazem tudo para combater os suicídios (Tota et al, 1994).

Em muitas culturas houve, e ainda há, embora em menor intensidade, penalidades para os parentes da vítima, como o resgate dos bens, a proibição do morto de ser enterrado com as honras fúnebres, chegando a ocorrer, na Índia, até há bem pouco tempo, punições mais severas como enterrar a esposa junto ao marido suicida, entre outras. O Código Penal Brasileiro também condena o induzimento ou o auxílio ao ato suicida quando consumado. A eutanásia, suicídio assistido, é uma questão em discussão. Na nossa cultura o suicídio é pouco divulgado, constituindo-se em uma espécie de tabu por não abordamos muito a morte, a velhice, enfim, as coisas que significam a finitude do ser, (Goulart, 1995)

A sociedade foi reprimindo o suicídio até a Revolução Francesa, a qual aboliu as medidas repressivas contra a prática do suicídio, posto que a conduta suicida deixou de comprometer a estabilidade do Estado (Cassorla, 1992).

Finalmente, no séc. XIX, intelectuais e filósofos questionaram estas atitudes e houve uma mudança. O suicídio passou a ser visto como uma manifestação de loucura, indicando que a pessoa não estava com a “mente sadia”. Tal abordagem era menos moral e se servia das descobertas no campo médico e social. (Goulart, 1995)

Atualmente o suicídio não é visto exclusivamente como um problema moral, mas também como um problema de saúde mental. Muitos peritos no assunto acreditam que a maioria dos suicídios são compulsivos e irracionais. Aqueles que tiram a própria vida, estão emocionalmente perturbados e agem compulsivamente ou então a percepção da realidade é tão distorcida pela angústia que a liberdade de escolha praticamente não existe (Goulart, 1995)

Índices de suicídio no Brasil e no mundo

As taxas internacionais de suicídio variam em torno de 10-15 por 100.000. Em alguns países do leste europeu, Escandinávia, Japão, as taxas chegam a 25 por 100.000. Nos Estados Unidos que, se colocam entre as taxas internacionais, entre 1970 e 1980, houve mais de 230.000 suicídios, aproximadamente 1 em cada 20 minutos. Atualmente, neste país, o suicídio ocupa a oitava posição entre as causas gerais de morte, sendo que no grupo etário entre 15 e 24 anos, ocupa a segunda posição vindo após os acidentes. Estes números representam apenas os suicídios completados, sendo que as tentativas de suicídio são estimadas em 8 a 10 vezes maiores (Kaplan e cols, 1997)

No Brasil, as mortes por suicídios, embora subestimadas, são de baixas magnitude quando comparadas a outras regiões, porém mostram-se crescentes na faixa do adulto jovem, principalmente no sexo masculino. Jorge(2000) considera esse fato preocupante, na medida em que não houve alteração metodológica quanto ao registro ou coleta de dados relativamente a essa causa.

Contudo, os números vêm aumentando de maneira considerável. Para alguns autores, o crescimento das taxas de suicídio é de 200% a 400% nos últimos vinte anos, em particular, entre os jovens, (OMS, 2004).

Num estudo das estatísticas do Ministério da Saúde (1998), sobre as causas da morte da população na faixa entre 15 e 24 anos, no Brasil, chegou a conclusões de que o número de suicídios nessa faixa cresceu cerca de 43% entre os anos estudados, passando de 3,5 a cada 100.000 pessoas (em 1979, primeiro ano da série) para 5 por 100.000 (em 1998).

Vanrell (1996) , num estudo preliminar verificou que taxa de mortalidade por suicídios por 100.000 habitantes, nas principais capitais brasileiras, que em 1980 era de 5,30 tem aumentado, progressivamente, para 7,89, em 1989, alcançando valores na casa de 15,76, em 1992, com discreto declínio (12,67) nos anos seguintes, (www.pericias-forenses.com.br/suicidio.htm).

O Rio Grande do Sul é o Estado brasileiro que historicamente tem apresentado os maiores coeficientes de suicídio do País. Esse fato tem instigado pesquisadores de vários campos do conhecimento, destacando-se as ciências sociais e da saúde, que apontaram a etnia, a cultura, as crises sociais e inclusive aspectos climáticos da região, como possíveis fatores ligados ao problema (Meneguel e cols, 2004).

A Organização Mundial da Saúde (1994) adverte que o suicídio ocupa o terceiro lugar entre as principais causas de morte no mundo. Ocorre tanto nas populações dos grandes centros como também naquelas das pequenas comunidades, na zona rural, estendendo-se até às reservas indígenas, nessas, tendo-se como hipótese para o suicídio o contato com as cidades, a miséria, o abandono das tradições e dos cultos. Observa-se, ainda, um maior número de suicídios entre adultos que vivem sozinhos, principalmente os idosos, porque nesse período se vivem situações desvitalizantes: isolamento social, desemprego, problemas econômicos e perda de pessoas queridas.

Estima-se ainda que, para cada suicídio, existem pelo menos dez tentativas suficientemente sérias a ponto de exigir atenção médica; mais ainda: para cada tentativa de suicídio registrada, existem quatro não conhecidas (Diekstra, 1993).

As relações entre idade e sexo e suicídio, assim como a freqüência destes, variam muito no que diz respeito ao país estudado. De maneira geral, é mais comum entre os homens com idade entre 15 e 24 anos, ao passo que entre mulheres, a maior ocorrência está na idade entre 25 a 34 anos, (Kaplan e cols, 1997).

A freqüência do suicídio entre as patologias é bastante variável; por exemplo, a depressão pode ser responsável por 45% a 70 % dos suicídios. Quase 95% dos pacientes que cometem suicídio têm doença mental diagnosticada, (Kaplan e cols, 1997).

Segundo a Organização Mundial de Saúde, (2004) o suicídio mata mais que violência urbana e guerras. O Brasil é um dos países que apresenta o menor número de suicidas, ou talvez nossa tentativa de suicídios seja bem maior do que os sucessos. Um dos objetivos da OMS é reverter a cifra de mais de 1 milhão de pessoas que tiram a própria vida por ano. Um dos planos para esta meta é a promoção do dia internacional de prevenção ao suicídio, promovido pela Organização Mundial de Saúde. Projeta-se que este número chegue a 1,5 milhão em 2020, mas desde já o suicídio corresponde a mais da metade das mortes violentas em todo o globo.

No Brasil, 53,3% das pessoas que tentam o suicídio não procuram nem são levados à assistência médica, porém é provável que este número seja muito maior. Os dados são, muitas vezes, omitidos devido às “exigências” de convênios médicos de saúde, que não remuneram o tratamento profissional nem hospitalar quando se relata na ficha do paciente o termo “suicídio”; há, inclusive, um grande estigma em relação ao suicídio entre os próprios profissionais de saúde, como se não bastasse a restrição das empresas de seguros de vida, que o “abominam”, (Revinter, 2004).