Neste texto, você poderá saber mais informações a respeito do que a psicologia e a psicanálise dizem a respeito do suicídio.

Características clínicas

Segundo Kaplan e cols (1997), os fatores mais comuns, associados ao suicídio são:

– Os homens comentem suicídio com freqüência três vezes maior que as mulheres. No entanto, as mulheres tentam quatro vezes mais que os homens.

– Esta taxa mais alta de êxito entre o sexo masculino está associada aos métodos usados. Geralmente o fazem usando arma de fogo, enforcamento ou pulando de locais elevados, enquanto as mulheres tendem a fazê-lo tomando dosagens excessivas de medicamentos ou veneno.

– As taxas de suicídio aumentam com a idade. Entre os homens, o número de suicídios completados é maior após os 45 anos. Entre as mulheres, esta taxa aumenta após os 55 anos. A maioria dos suicídios ocorre entre 15 e 44 anos.

– Entre as raças: homens brancos cometem suicídio duas vezes mais que não brancos. Dois em cada três suicídios são de homens brancos.

– O casamento, reforçado pelos filhos, diminui significativamente o risco de suicídio. Pessoas solteiras, jamais casadas, cometem suicídio duas vezes mais que pessoas casadas. Entretanto, pessoas casadas anteriormente, têm duas vezes mais chance de suicídio que as jamais casadas. Estas taxas atingem um pico entre homens divorciados, chegando a 69 por 100.000.

História de suicídio na família e isolamento social aumentam o risco de suicídio.

Entre as profissões, quanto mais alta a posição social, maior é o risco de suicídio, mas, o trabalho em geral, protege contra o suicídio, que é maior entre as pessoas desempregadas que entre as pessoas empregadas.

Etiologia

Nas últimas décadas, a produção científica acerca do suicídio revestiu-se de caráter predominantemente pragmático e técnico. Nessa linha predominam os estudos que buscam identificar fatores de risco, recortando o evento em múltiplas variáveis em nível biológico, psicológico e social.

Fatores Sociológicos

A etiologia do suicídio envolve fatores sociais, como aqueles propostos por Durkheim (1982), sociólogo que contribuiu para o estudo das influencias sociais e culturais sobre o suicídio. Segundo este autor, há aqueles que ocorrem após a dissolução de um vínculo (suicídio anômico); aqueles cometidos em benefício de outros para aliviar a carga de alguém que tem de cuidá-los, um modo de recuperar a honra (suicídio altruísta); e o sentimento de não estar integrado no convívio, não ter lugar na sociedade (suicídio egoísta).

Fatores Neuroquímicos

A importância da genética no suicídio pode estar relacionada com a informação cromossômica para a síntese e secreção de serotonina. De modo interessante, o sexo feminino tem um nível médio mais elevado de serotonina cerebral que o sexo masculino, e menor incidência de suicídio.

Pacientes deprimidos com níveis baixos de ácido 5-hidroxindelacético (derivado da Serotonina) tem risco aumentado para suicídio. Altos níveis de 17 hidrocortiscoteróides urinário também elevam o risco para suicídio. Pessoas com baixo nível de monoaminoxidase plaquetária , têm uma prevalência de suicídio em suas famílias oito vezes maior, do que em pessoal com alto nível desta enzima (Kaplan e cols, 1997)

Novas tecnologias de avaliação de neuro-imagens, tais como o tomógrafo por emissão de pósitrons (PET), oferecem uma oportunidade de visualizar a função da serotonina “in vivo” de modo direto. Estas tecnologias podem fornecer a possibilidade de uma intervenção terapêutica mais precoce e oportuna em pacientes com alto risco para suicídio.

Fatores Psicológicos do suicídio

Psicanalálise

Várias áreas se interessam pelo estudo e pela prevenção do suicídio. A tendência é olhá-lo através da multidisciplinaridade na qual vários fatores são considerados A Psicanálise, teoria de Freud, é uma delas, pois se interessa pelo estudo da constituição do sujeito a partir das suas primeiras relações de objeto – mãe/filho, contexto familiar, estendendo-se mais recentemente para as interações sociais no intuito de compreender, profundamente, as causas humanas, através de processos psíquicos complexos. Freud acreditava, que o suicídio ocorre após um desejo reprimido de matar outra pessoa. (Laplanche, 1983).

Para a psicanálise, o suicídio é uma situação psicótica. Isso não significa que a pessoa seja psicótica, mas que, no momento do ato, nela tenham se ativados núcleos e componentes psicóticos da personalidade que permaneciam inativos e neutralizados pelas partes não psicóticas da personalidade e que acabam por se manifestar em dado momento da crise. A tentativa geralmente está associada às fantasias que cada pessoa tem com relação à morte: busca de uma outra vida, desejo de ressurreição, reencontro com mortos, volta ao seio materno e retorno à vida intra-uterina, agressão e punição ao ambiente (Cassolar,1991).

A teoria de Menninger

Podemos buscar explicações etiológicas, também na teoria de Menninger, no qual o suicídio é um assassinato retroflexivo, uma raiva contra outra pessoa, que é voltada para si mesmo. É considerado a relação de dois fatores : ambiente desfavorável e a constituição do indivíduo, enfatizando a depressão resultante do luto e melancolia, o papel do objeto perdido, a deformação masoquista da personalidade e a internalização das agressões do ambiente. Da síntese dos dois fatores poderia emergir uma personalidade autodestrutiva. No suicídio, segundo esta teoria, há o desejo de matar, o de ser morto e o desejo de morrer (Kaplan e cols, 1997)

Teoria fenomenológica

Sampaio e cols (2000) elaboraram uma incursão pelas idéias da fenomenologia, particularmente pelo pensamento do filósofo Heidegger. A compreensão da pessoa que decide colocar fim à sua existência pode se constituir, na perspectiva deste estudo, como um caminho para reconstrução e redimensionamento de suas perspectivas existenciais.

Suicídio e Saúde Mental

Atrás de um ato suicida, geralmente há uma motivação desencadeante. Na literatura em geral, são encontradas diversas possíveis explicações para esta motivação que impulsiona o ato suicida.

Nas descrições dos quadros psicopatológicos, por exemplo, assinala-se, entre outros sintomas, o risco de suicídio: nos pacientes borderline, nas psicoses esquizofrênicas, nos estados maníaco-depressivos, nas depressões pós-parto, nas depressões advindas de uma

Condição Médica Geral, no usuário de drogas, no alcoolismo, em casos de HIV, em perdas de membros, perda da visão, gravidez na adolescência, o suicídio ocorrido em decorrência de certas medicações, as quais interfeririam no psiquismo; o suicídio pela falta de aderência a determinados tratamentos comuns na diabete, na hipertensão, entre outras.

Encontramos nas diversas literaturas da área que, no entanto, a ocorrência do suicídio também possa ser de motivação moral, no qual entre os motivos desencadeantes podem estar as causas ideológicas, os motivos religiosos, a vergonha, a culpa, as perdas amorosas, a perda das relações objetais, e até mesmo o suicídio como uma forma de querer continuar existindo no desejo do outro ou advindo do desejo desse outro. Embora exista a ocorrência do suicídio nestas situações mencionadas, percebe-se que não são todas as pessoas acometidas por esses quadros que se suicidam.

Entre os pacientes que cometem suicídio, quase 95% tem uma doença mental diagnosticada, 80% têm um transtorno de humor, 25% são dependentes de álcool e, 15% dos pacientes que têm um destes transtornos morrem por suicídio.

Apesar de ser uma doença menos comum, a esquizofrenia responde por aproximadamente 10% dos suicídios. Pacientes com depressão delirante são quem apresentam o mais alto risco para suicídio. O risco de suicídio entre pacientes psiquiátricos é de 3 a 12 vezes maior que no restante da população. A idade do suicídio varia em torno dos 30 anos, o que parcialmente deve-se ao início precoce da esquizofrenia (Kaplan e cols, 1997)

Entre os fatores capazes de aumentar o risco de suicídio em pacientes esquizofrênicos destacam-se: o isolamento social, não ser casado, desempregado, história prévia de tentativa de suicídio, fortes expectativas sócio-familiares de boa performance, curso da doença crônico e com muitos surtos agudos, múltiplas internações, dificuldades no trabalho, história de depressão no passado e, evidentemente, depressão presente. Este último fator é de maior risco ainda, quando o sintoma proeminente é humor deprimido persistente e desesperança (Kaplan e cols, 1997)

Quando um paciente psiquiátrico sofre uma internação, há um risco aumentado de ideação suicida. O período após a alta é especialmente perigoso. Após três a cinco semanas de internação, a taxa de suicídio volta a se igualar com a população geral O paciente psicótico tende a destruir a rede de apoio social, e no retorno à comunidade, esta fracamente integrada à sociedade. O isolamento social, alguma nova adversidade ou à volta de problemas anteriores pode torná-lo desencorajado, impotente e desesperançado, estado de humor ideal para colocar o suicídio em prática. (Kaplan e cols., 1997)

Entre os fatores psiquiátricos associados ao suicídio, em primeiro lugar está a depressão, alteração afetiva predominante no ato suicida, desde sua ideação, intenção até o suicídio de fato. A maioria dos pacientes depressivos cometem suicídio no início do curso da doença, sendo, na maior parte, do sexo masculino, solteiros, separado, viúvo ou enlutado recentemente e, tendem a estar na meia idade ou na velhice.

O suicídio na depressão não costuma ser espontâneo ou impulsivo, como acontece em alguns casos de esquizofrenia, de embriaguez patológica ou transtorno explosivo da personalidade. Na depressão o suicídio costuma ser elaborado em detalhes, com escolha do meio de se matar, hora e local do ato, (Kaplan e cols, 1997).

Em episódio Depressivo Maior, freqüentemente, pode haver pensamentos sobre morte, ideação suicida ou tentativa de suicídio. A freqüência, intensidade e letalidade desses pensamentos podem ser bastante variáveis. Os indivíduos menos severamente suicidas podem relatar pensamentos transitórios (de 1 a 2 minutos) e recorrentes (uma ou duas vezes por semana).

As pessoas mais severamente suicidas podem ter adquirido materiais (por ex., corda ou arma de fogo) para serem usados na tentativa de suicídio e podem ter estabelecido um local e momento em que estarão isolados dos outros, de modo a poderem completar o suicídio. Estudos mostram que não é possível predizer com precisão se ou quando determinado indivíduo com depressão tentará o suicídio. As motivações para o suicídio podem incluir um desejo de desistir diante de obstáculos ou um intenso desejo de terminar com um estado emocional doloroso percebido pela pessoa como interminável (Kaplan e cols, 1997).

O Transtorno Dismórfico Corporal, muito comum em adolescentes, diz respeito à preocupação exagerada com um defeito inexistente ou ligeiro, na aparência. Atualmente o Transtorno Dismórfico Corporal está relacionado à alteração patológica da imagem corporal que encontramos em pacientes anoréticos. Pois bem, entre pacientes com esse Transtorno, as estimativas percebem que, 21% já realizam uma tentativa do suicídio (Kaplan e cols, 1997).

A Personalidade Borderline é caracterizada por um padrão comportamental de instabilidade nos relacionamentos interpessoais, na auto-imagem e nos afetos. Há uma acentuada impulsividade, a qual começa no início da idade adulta e persiste indefinidamente.

O paciente Borderline freqüentemente se queixa de sentimentos crônicos de vazio. Há sempre uma propensão a se envolver em relacionamentos intensos mas instáveis, os quais podem causar nessas pessoas, repetidas crises emocionais. Esses pacientes se esforçam excessivamente para evitar o abandono, podendo haver quanto a isso, uma série de ameaças de suicídio ou atos de auto-lesão. O suicídio concreto, quando acontece em portadores de Personalidade Borderline, geralmente se dá por engano, ou seja, quando sua auto-mutilação ou teatralidade não foi bem planejada ou fugiu ao seu controle (Kaplan e cols, 1997).

No Transtorno Bipolar I.e no Transtorno Bipolar II, o suicídio completado (geralmente durante Episódios Depressivos Maiores) é um risco significativo, ocorrendo em 10 a 15% das pessoas com estes transtornos (Kaplan e cols, 1997)

No Transtorno do Humor Devido a uma Condição Médica Geral, Com Características Depressivas, os índices de suicídio são variáveis, dependendo da condição médica geral específica, sendo que as condições crônicas, incuráveis e dolorosas (por ex., condições malignas, lesões da medula, úlcera péptica, doença de Huntington, síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS), doença renal em estágio terminal, traumatismo craniano) acarretam maior risco de suicídio (Kaplan e cols, 1997)